O segredo dos Noruegueses

Norwegian triathlete Kristian Blummenfelt and Norwegian Gustav iden pictured in action during the Hawaii Ironman men's triathlon race, Saturday 08 October 2022, in Kailua, Kona, Hawaii
Norwegian triathlete Kristian Blummenfelt and Norwegian Gustav iden pictured in action during the Hawaii Ironman men’s triathlon race, Saturday 08 October 2022, in Kailua, Kona, Hawaii, USA. BELGA PHOTO DAVID PINTENS (Photo by DAVID PINTENS / BELGA MAG / Belga via AFP) (Photo by DAVID PINTENS/BELGA MAG/AFP via Getty Images)

Quer ter performance no triathlon como os Noruegueses?

Para quem acompanha o cenário do triathlon mundial, é impossível não se empolgar quando os nomes Kristian Blummenfelt e Gustav Iden, principalmente, vem à tona.
Existem algumas características observadas nesses atletas que os diferenciam da maioria. Vamos falar sobre elas?

PARTE 1: OBSERVAÇÃO
Esses atletas começaram a despontar e ganhar tudo nos últimos anos. Porém, sabe desde quando eles estão treinando e construindo essa trajetória?
Desde pelo menos os últimos 10 anos. Isso mesmo. DEZ ANOS. No mínimo. Uma bela de uma meta de longo prazo.

  • Treinando praticamente da mesma maneira;
  • Com o mesmo treinador;
  • Seguindo os mesmos protocolos;
  • Comendo bem;
  • Dormindo bem;
  • Treinando, comendo, treinando, comendo, dormindo, treinando, repetindo, repetindo, repetindo, repetindo e repetindo.

Treino é repetição. Repetição é às vezes chato se você não vislumbra o objetivo final, que raramente é na semana que vem, mas precisa ser feito.
Condicionamento exige tempo. Não existem atalhos, equipamentos, fórmulas ou suplementos mágicos.

PARTE 2: ESTILO DE VIDA
Todos os fatores que indicam sucesso dos noruegueses estão aliados a um estilo de vida que permite que eles foquem única e exclusivamente no esporte.
O seu dia, sua rotina, seus hábitos, são voltados para isso.
Treinar, comer, dormir, repetir. Família, amigos, vida social? Importantes para o bem-estar mental, mas não podem desviar seu foco do objetivo principal.

Sua vida é assim? Provavelmente não. É realmente desse jeito que você pretende viver? Também acho que não.
No mundo real, com atletas amadores, tudo que acontece na sua vida além do treino também tem sua carga, seu peso e você não consegue remover alguns itens da sua vida como o profissional consegue.

Pense em você como um aparelho celular. Você dorme, deixa carregando. Por vezes carregou completamente (uma boa noite de sono) e por vezes você plugou o carregador na metade da noite e acorda com a bateria abaixo dos 100%. Cada coisa que você faz, tudo que acontece no seu dia, vai gastando um pouco dessa bateria.
Treinou? Usou energia.
Trabalhou? Também.
Atenção pra família? Também gasta sua bateria.
Estresse no trânsito? Adivinha…
Dormiu mal depois? Não recarregou a bateria.
Dia seguinte? Quer usar 100% da bateria mas acordou com 75%. O que acontece?

A diferença pra um celular é que a bateria chega a 0% e ele desliga. Nós como indivíduos biológicos temos uma capacidade imensa de adaptação, mas não sem um custo associado. E esse custo é caro.
Ao contrário dos noruegueses, você não tem como eliminar essas “distrações” da sua vida.
O máximo que você pode fazer é gerenciar e tentar minimizar o impacto delas e ter harmonia para durar bastante tempo no esporte.

PARTE 3: ADAPTANDO-SE AO ESPORTE
Não adianta querer cumprir a planilha a qualquer custo. Isso só vai degradar a sua bateria até chegar no ponto onde nem que você durma ela será carregada.
Isso, quando acontece é o famoso e indesejado burnout. Sozinho ou acompanhado de um evento de RED-S (síndrome de deficiência energética relativa).
Não tem tempo de treinar sequer para um sprint triathlon ou um 10K e se inscreve no Ironman?
Se inscreve em prova atrás de prova e não dá tempo do corpo recuperar ou assimilar os treinamentos recebidos?
Se lesionou e não respeita os protocolos de recuperação?
Quer resultados pra ontem?
Todas esses comportamentos batem no famoso “muro da frustração”, onde é praticamente impossível atingir os objetivos desejados, gerando desmotivação, desistências e até depressão.
Mas e aí? como fazer para viver o esporte que gosto e ainda render nele e na vida?
A principal variável que determina isso é o quanto seu corpo consegue assimilar do treinamento recebido e com isso gerar adaptações positivas, ou seja, evoluir.
Compartilhe sua rotina com seu(sua) treinador(a), nutricionista e demais profissionais envolvidos para que o esporte caiba no seu estilo de vida e seja executável.

PARTE 4: FOCO NO BÁSICO
Muita gente acredita nas ciladas que tentam vender por aí: vitaminas e remédios milagrosos, suplementos com promessas tentadoras, o último e caríssimo equipamento de última geração, a speedsuit do super nadador, a superbike do campeão de Kona, o tênis do campeão da maratona.
Nada disso vai te dar resultados sem dois itens super importantes: Treino e tempo.
Por exemplo, se sua bike foi fabricada nos últimos 6, 8 anos, já é uma bike moderna, aerodinâmica, leve.
Sinto dizer, mas provavelmente não é seu equipamento atual que está limitando a sua performance se você é um amador comum.
Tem dinheiro? Compre TUDO, mas tenha em mente que sua performance não virá por isso e sim apesar disso.
O que se compra faz parte dos 5% finais do seu treinamento, do refinamento.
95% do seu desempenho vem de treinar bem, comer bem, dormir bem, fazer o básico bem feito, mantendo a saúde e com isso a consistência.
O sucesso é atingido com comprometimento, esforço, trabalho. Por isso não ser fácil, muita gente cai na cilada de querer “comprar” performance.

PARTE 5: RESILIÊNCIA MENTAL
Você passa uma década se preparando para ser um atleta vencedor, consegue alguns bons resultados e, de repente, numa prova, segundo lugar. Na outra? Não sobe no pódio. Fim de carreira? Trocar de treinador igual trocam de técnico nos times de futebol brasileiros? Não pra esses atletas e deveria ser não para você também.
Parte da construção deles como atletas também teve a formação de um aspecto mental forte, preparado para isso.
O primeiro ponto é que é virtualmente impossível vencer todas as competições que você participar. Então ficar frustrado é normal, deve acontecer, mas você e sua equipe devem estar preparados para entender o momento, analisar os eventos e ajustar a rota caso necessário.
Os motivos que podem impedir o resultado desejado são muitos: seu corpo não ter vantagem sobre seu adversário naquele circuito/clima/dia, você ter pego alguma doença que ainda não se manifestou mas já está incubando e exigindo energia do seu corpo para lutar contra ela (lembra da bateria?) ou até mesmo essa competição não ser a prioridade no calendário maior.
Independente do resultado, você deve estar ciente do momento e ter expectativas alinhadas com sua equipe para diminuir a carga de frustrações, mesmo que o resultado tão almejado não aconteça na prova A que vocês inicialmente estavam planejando. Isso acontece no campo profissional o tempo todo: atletas abandonando a prova no meio do percurso, situações adversas como uma penalização mal aplicada, entre outros.

Faça o básico bem feito, confie no processo, mantenha a cabeça forte e saudável, avalie, adapte, dê tempo ao tempo e os resultados virão.

O segredo dos Noruegueses